Yumi Garcia dos Santos

Yumi Garcia dos Santos

Palestrante

Os artesãos e as artesãs do Vale do Jequitinhonha à margem da corrida da mineração: vida que segue

Minha apresentação é parte da investigação em curso do projeto "Efeitos da extração de lítio no Vale do Jequitinhonha: governança socioambiental, gênero e configurações territoriais" (FAPEMIG 2024), e se volta nos artesãos e das artesãs das cidades de Araçuaí e Itinga. A região tem sido o epicentro da corrida pela mineração do lítio no contexto do discurso global da transição energética.

Uma empresa nacional atua na região há mais de 30 anos, mas desde 2023 uma multinacional iniciou as atividades de extração do lítio dito "verde", proclamando-se promotora do desenvolvimento socioeconômico da região. Implementou diversos programas de forte visibilização, sendo o carro-chefe o programa de microcrédito voltado para as mulheres pequenas empreendedoras.

O novo fenômeno acontece em um território conhecido pelos trabalhos de artesãos e artesãs, alguns tendo se projetado nas últimas décadas nacional e internacionalmente, sendo reconhecidos como artistas do Vale. Outros atuam para manter a tradição das técnicas e estilos locais, como as artesãs de Pasmadinho. Destaca-se a atividade das mulheres neste campo.

O ponto de virada para que tais manifestações culturais sejam valorizadas foi a chegada de um frei holandês em Araçuaí, no ano de 1967, e sua pesquisa sobre a religiosidade popular do Vale realizada com a ajuda da hoje renomada artista Lira Marques. Até então peças utilizadas em festas religiosas e no âmbito doméstico, passou-se a vender em feiras, permitindo que as obras fossem amplamente conhecidas.

No atravessamento da instalação das atividades mineradoras do lítio legitimadas pelo discurso da descarbonização, questionamos como está a vida dos artesãos e das artesãs de Araçuaí e de Itinga. Alguma contrapartida, direta ou indireta - melhoria de infraestrutura de trabalho, fornecimento de material, canais de exposição e de venda - teria sido oferecida? Se alguns alcançaram renome fomentados pelos empreendimentos em parceria com a elite local, a grande maioria permaneceu sem nenhum apoio. Suas vidas marcadas pela simplicidade e não raro, pelas dificuldades de exercer seu trabalho, seguem. Pretendo mostrar nesta ocasião um pouco do processo etnográfico realizado por meio da exposição dos relatos escutados em entrevistas e de imagens registradas destes atores e atrizes do Médio Jequitinhonha.

Trabalho no Evento

Dia e Hora: 28 de Agosto — 08h45 às 10h45 (Mesa 7)

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