Daniel de Jesus Figueiredo

Antropologia e quadrinhos: narrativas imagéticas e abordagens pós-representacionais

A aproximação que proponho entre antropologia e estudos de quadrinhos (comics studies) considera as produções gráficas como objetos sociotécnicos. Isto implica em se desvencilhar de tomar o quadrinho enquanto um produto acabado que, uma vez produzido em sua forma usual impressa (livro, revista, zine, etc.), deve ser lido como uma representação de algo, ou como sendo fruto da visão particular e autoral de quem o produziu.

A composição de um quadrinho, sua forma técnica (quadro, requadro, layout, etc.), e a sua decupagem, possuem um caráter relacional e associativo que pode vir a ser condição de existência estética para ficcionar (em um sentido mais próximo da fictio latina) mundos possíveis, por meio de técnicas imagéticas, em que o receptor é parte tão ativa como os produtores e a obra.

O objetivo da apresentação é expor o caráter agentivo das imagens por meio de uma abordagem semiótico-material. A ideia central é ir além da proposição arraigada nos estudos de quadrinhos que os lê primordialmente como representação do mundo. Faremos este experimento por meio de trabalhos como a obra do artista de banda desenhada moçambicano, Justino Cardoso; a obra O pesadelo de Obi - primeira graphic novel da Guiné Equatorial, que aborda a situação política do país de forma inovadora e contundente; e a obra Pente Quente, da artista e etnógrafa estadunidense Ebony Flowers, que aborda a importância dos cabelos black na relação entre identidade e alteridade das mulheres negras.