Arte e Antropologia

Edgar Kanaykõ Xakriabá

Edgar Kanaykõ Xakriabá

A câmera como arco e a imagem com flecha: uma reflexão do uso da imagem como instrumento de luta e resistência Indígena

Os povos indígenas no Brasil vêm ao longo dos últimos tempos passando por uma nova retomada de espaço. Assim como o território é a base da garantia da manutenção da vida de um povo - bem como de nossas identidades, da continuação de ser o que somos -, há uma certa necessidade de se ter uma maneira que garanta tal sustento. Este está estritamente ligado aos modos de vida que conectam o povo com sua identidade, ou seja, a garantia do território para os povos indígenas é crucial para manter as relações que se conectam à terra-floresta (KOPENAWA; ALBERT (2023), onde as coisas estão interconectadas desde o plantio e colheita das roças, caça, os rios, objetos, artesanatos, cerâmicas, nas coisas nossas e dos brancos, dos humanos e não-humanos.

Isto é de todas as possibilidades de relações que são criadas e suas ontologias. Nesse contexto de resistência e reafirmação cultural, o audiovisual emerge como uma nova ferramenta de luta. Visto por algumas comunidades como um "mal necessário", o uso das tecnologias contemporâneas ainda provoca tensões: por um lado, teme-se a perda ou descaracterização de elementos culturais; por outro, há um movimento crescente que reconhece o potencial dessas ferramentas para fortalecer a luta indígena e garantir seus direitos.

A produção audiovisual indígena representa um encontro entre mundos, desafiando binarismos como tradição e modernidade, coletivo e individual, autoria e partilha. Inicialmente, o cinema retratava os povos indígenas a partir do olhar externo de cineastas não indígenas, muitas vezes reproduzindo estereótipos e perspectivas coloniais. No entanto, a partir da década de 1970 - impulsionado pelo fortalecimento do Movimento Indígena - esse cenário começou a mudar.

Projetos colaborativos como Vídeo nas Aldeias (1986) e o Proyecto de Video Kayapó (1990) passaram a incentivar a produção indígena a partir do próprio olhar dos povos originários, transformando o audiovisual em instrumento de expressão, memória e resistência. Tornando a câmera como arco e a imagem como flecha e reelaborando os próprios conceitos de hêmba imagem.

Trabalho no Evento

Dia e Hora: 27 de Agosto — 11h00 às 13h00 (Mesa 3)

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