O traço e a estenopéica: imaginações etnográficas para espantar o colonialismo e seus pavores

Esta apresentação se propõe a discutir as relações entre antropologia e imagem. Tomando como ponto de partida a problematização da eloquente preferência da antropologia pelos textos ou por um certo tipo de imagens, os das palavras escritas, ela pretende contornar a predileção antropológica pelo texto escrito experimentando nos limiares da imagem e da palavra, da produção de memória e das condições de sua produção.

E ela pretende fazê-lo, de um lado, pondo em fricção as antropologias e as artes, explorando outros modos de registro e expressão, de criação e de apropriação, de alteração, composição, sobreposição e reprodução. E, de outro, colocando no centro da discussão modos de expressão comumente invisibilizados, bem como a realização de antropologias compartilhadas que compreendam contribuições de povos tradicionais não afeitos à academia.

Tendo como foco experiências de pesquisa colaborativa que venho há anos desenvolvendo no norte de Moçambique, notadamente a parceria com o artista plástico moçambicano, mestre Justino Cardoso, esta apresentação pretende contribuir para espantar os colonialismos e seus pavores propondo alternativas à imaginação etnográfica convencional e ensaiando formas de produção emergentes nas margens da antropologia e das artes visuais.