
Rogério do Páteo
Qurna: um Atlas difrativo
Como realizar uma etnografia-visual em uma escavação arqueológica no Egito sem cair nas armadilhas do Orientalismo? Como ultrapassar os clichês visuais em um dos lugares mais fotografados do mundo? Sobretudo, como avançar em uma narrativa visual antropológica indo além das amarras do estilo documental tradicional? O trabalho "Qurna: um atlas difrativo" busca responder essas perguntas por meio da construção de exercícios experimentais de montagem articulando diferentes estratégias visuais focadas em dar forma a discussões conceituais contemporâneas no âmbito das ciências humanas e das artes.
O trabalho em tela é fruto de cerca de sete anos de pesquisa acompanhando a escavação da Tumba Tebana 123, localizada na região de Qurna, na cidade de Luxor, no Egito, como membro da equipe do Brazilian Archaeological Program in Egypt (BAPE), coordenado pelo Dr. José Roberto Pellini. Minha participação oficial no programa se deu entre 2020 e 2025, período no qual foram realizadas 5 etapas de campo, variando entre 30 e 45 dias cada, nas quais foram produzidas cerca de 40.000 fotografias.
A montagem de parte desse material permanece em andamento, e está conceitualmente lastreada em quatro eixos principais: O realismo agencial como compreendido por Karen Barad, sobretudo na ideia de "análise difrativa"; os avanços do documentário conceitual na fotografia, fundamentados pelos trabalhos de Martin Parr, Ed Ruscha e muitos outros; as reflexões acerca da narrativa visual desenvolvidas por Nathan Lyons e Keith Smith; e a monumental obra de Aby Warburg "Atlas Mnemosyne", lida sobre os ombros de um dos seus mais importantes intérpretes, o filósofo e crítico de arte George Didi-Huberman.
Com o propósito de lançamento no formato de fotolivro, o trabalho aqui apresentado parte do pressuposto que a produção de imagens, sua edição, sequenciamento e publicação, atrelado a um arcabouço teórico e conceitual, produz um objeto de materialidade própria que carrega rastros de uma configuração espaço-tempo que abriga esse novo encontro entre diferentes agências, e através de uma articulação material-discursiva nova, se entrega a um processo de conversão que carrega em si palavras e coisas, lugares e momentos, teorias e práticas em um novo entrelaçamento produtivo.
Trabalho no Evento
Dia e Hora: 26 de Agosto — 19h00 às 21h00 (Mesa 1)
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