As palavras e os conflitos

A artista estrutura sua fala a partir de 3 obras que lidam diretamente com a linguagem e a tentativa de se nomear o mal-estar no mundo contemporâneo. "O nome do medo" é um projeto que se inicia em 2015 na Whitechapel em Londres e se estende até os dias hoje. Trata-se de trabalhar coletivamente com crianças e escolas na tentativa de nomear medos que povoam o universo infantil em diferentes partes do mundo: qual a importância de fatores externos na construção dos medos de uma criança? Como diferenciar medo de pânico, temor ou angústia? Como governos autoritários usam do medo para minar a subjetividade de um sujeito?

Já o trabalho "Repente", parte das palavras de ordem encontradas nas manifestações de Junho de 2013 no Brasil. Como identificar o clamor das ruas através de diferentes enunciados? Como obras de arte podem funcionar como disparadores de conversas desarmadas em um ambiente político altamente polarizado?

Por fim, o filme "Eu sou uma arara", feito em parceria com a cineasta pernambucana Mariana Lacerda, parece levar estas e outras questões mais a fundo, tanto no sentido de questionar os limites da linguagem quanto de envolver a comunidade de modo mais eloquente a fim de causar uma interferência real no tecido social. O filme acompanha as manifestações políticas que aconteceram em São Paulo no último ano do governo Bolsonaro (2021-2022), onde um grupo de pessoas atua como bichos, plantas e fungos, carregando os enunciados urgentes de um determinado período histórico, mas também palavras que antecedem lutas específicas (marco temporal e o direito da natureza) e até mesmo a destruição total das palavras.