Arte e Antropologia

André Brasil

André Brasil

Ficções metamórficas: o sonho como forma em filmes indígenas

Entre os primeiros filmes indígenas que assisti está Nguné Elü - O dia em que a lua mestruou, um dos trabalhos iniciais de Takumã Kuikuro. Diante de um eclipse lunar, a aldeia se mobiliza para se proteger do regime de transformações arriscadas que se instaura quando a lua menstrua. Como resume uma das mulheres no início do filme, no eclipse, "todos se transformam, todos os animais se transformam. O tatu vira arraia, a cobra vira peixe".

Sob a menstruação da lua, é preciso acordar os objetos, as roupas, as panelas, as sacolas, o fogão, a televisão. Acordar os cantos e os rituais. Acordar as hipermulheres, devires sobrenaturais femininos, que vêm para retrucar os insultos dos homens, menosprezar seus pênis. O eclipse surge no filme, assim, como uma espécie de gênese da ficção, a força que faz a lua virar mulher, o dia virar noite, os mortos visitarem a aldeia dos vivos, os vivos se perderem na aldeia dos mortos.

Mais recentemente, assisti a Mãri Hi - A árvore do sonho, de Morzaniel Ɨramari Yanomami. Espécie filme-ensaio sobre o sonho, mais precisamente, se trata de um filme que se ensaia sob o regime sensível do sonho; que se produz no encontro originário entre sonho e cinema: ali onde as coisas e os seres se animam e de onde nos olham. Trata-se aqui de percorrer cenas de filmes ameríndios para perceber como, para além de sua tematização, o sonhar constitui um regime de imagens, uma ficção coletivizada constituída na metamorfose.

Trabalho no Evento

Dia e Hora: 27 de Agosto — 19h00 às 21h00 (Mesa 6)

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