Arte e Antropologia

Edgar Barbosa

Edgar Barbosa

A arte da resposta: tempo e contraponto na experiência afro-brasileira

Em uma manifestação de rua, ocorrida há alguns anos, a iyalorixá e ativista Sandrali de Campos Bueno segurava um cartaz no qual constava a seguinte inscrição: "Levante Negro contra o Racismo. Respondendo ao Chamado da Ancestralidade". A luta antirracista é uma resposta ao chamado da ancestralidade, mas podemos perfeitamente imaginar que, em outras situações, a resposta poderia ser uma obrigação ritual, a retomada de um território, a ocupação de um lugar.

A ancestralidade, experimentada como uma relação entre chamado e resposta, retoma da música negra o seu uso inventivo do contraponto e da polifonia. Aquilo que alguém toca em um lugar, e que talvez já seja a resposta para o toque que vem de um outro lugar, é, por sua vez, respondido por quem pode estar tocando ainda mais longe. A ancestralidade como ritornelo supõe também uma polirritmia antirracista e contracolonial.

Quando alguém começa é porque um outro alguém (humano, divino ou ambos) já começou, e há muitos começos acontecendo ao mesmo tempo. A tradição, cuja potência uma certa antropologia às vezes negligencia, talvez seja composta por uma multiplicidade de começos permanentemente relacionados uns com os outros, retomados uns pelos outros, como se fosse um ritmo feito de vários ritmos. A tradição é um meio para múltiplos começos. Mais inventiva do que inventada, antes uma força de resistência do que uma forma atávica, ela rima com aquela afirmação de Antônio Bispo dos Santos: "sempre demos um jeito de recomeçar". O começo sempre volta, mas volta, precisamente, enquanto começo. Repete-se o começo, começando de novo, de modo diverso e simultâneo.

Trabalho no Evento

Dia e Hora: 28 de Agosto — 16h15 às 18h15 (Mesa 10)

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