
Renarde Freire Nobre
A potência artística – aforismos de admiração
Bourdieu nos lembra do inconveniente hábito da sociologia de nos desfazer da ilusão da liberdade, assim como de outras mistificações tais como as ideias de essencialidade ou de equilíbrio. A sociologia está a nos esclarecer sobre o caráter eminentemente coercitivo, fragmentado e agônico da vida social.
A "sociologia da arte" reafirma essa função ao nos alertar sobre o sentido social das mistificações aplicadas aos fenômenos artísticos, ao nos mostrar que ideias sublimes como as do "gênio artístico" ou da "arte pela arte" são resultados de disposições coletivas que movimentam um "campo" social no qual se processam as narrativas e as disputas em torno das artes, um ambiente repleto de determinações, disputas e delimitações.
Mas vou tratar aqui não das teorias que investigam a constituição do "campo artístico" ou do "mundo das artes". Embora haja nas teorizações muito de assertivo e esclarecedor e elas contribuem para excomungarem de vez a ingenuidade sobre uma suposta "autonomia do criador", os enquadramentos sociológicos nem de longe dizem tudo da arte, sobretudo não a atingem como experiência, vida e criação.
Significa pensar que a relação da arte com realidade não se limita ao reconhecimento das condições objetivas que fazem da arte uma dimensão do social, pois cabe também conceber a arte como experiência singular em face da realidade, do mundo, da existência. Não se trata da "arte pela arte" (que pode ser objetivamente processada e explicada), mas da arte para a vida, ou mais acuradamente, ou da arte como forma de vida e de cultura (o que requer um olhar subjetivo e interpretativo). A comunicação, então, visará refletir a relação entre "arte e realidade", não da perspectiva da arte como fato ou fenômeno social, mas da arte como potência afetiva de experimentação e significação, seja em sentido pessoal ou coletivo.
Trabalho no Evento
Dia e Hora: 27 de Agosto — 16h15 às 18h15 (Mesa 5)
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